Treino com dados: conheça as ‘sportechs’ que estão mudando a forma de praticar exercícios

Kalpon Arris By Kalpon Arris
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A tecnologia faz parte da rotina dos atletas de elite há anos. No futebol, o video assistant referee (VAR) e, mais recentemente, a bola com inteligência artificial confeccionada pela Adidas para a Copa do Catar são exemplos. Mas não é preciso ser um esportista profissional para aderir a widgets que aumentam a performance. Atividade física conectada à internet é uma das grandes tendências globais do setor para os próximos anos, e a Allied Market Research estima um mercado com potencial de 120 bilhões de dólares até 2030.

Seja para quem corre aos fins de semana, seja para quem pedala a caminho do trabalho, sportechs nacionais e estrangeiras estão aumentando a oferta de equipamentos e serviços baseados em dados e feitos sob medida. Não à toa, o Brasil é o segundo maior mercado do Strava, aplicativo fitness que se vende como a maior comunidade de atletas do planeta, com 100 milhões de usuários no mundo e quase 7 bilhões de atividades físicas já realizadas.

Fundado em 2009 por Michael Horvath e Mark Gainey, sócios que se conheceram na equipe de remo de Harvard, o Strava­ é uma plataforma que ajuda atletas amadores e também profissionais a monitorar a evolução nos treinos mediante análises detalhadas sobre constância, ritmo, marcadores pessoais e até mesmo fre­quência cardíaca. A coleta de dados é feita tanto pelo celular quanto por relógios inteligentes.

No Brasil, 37% dos 14 milhões de usuá­rios usam o app para praticar ciclismo e 20% o utilizam para correr. O Strava contempla mais de 40 atividades, incluindo esportes na terra, na água e até mesmo na neve. “O usuário brasileiro é muito sociá­vel. Um dos motivos para o Strava fazer tanto sucesso no Brasil é o social, conectando pessoas que praticam esporte”, diz Rosana Fortes, country manage da plataforma.

Até 2019, o Strava tinha 4 milhões de usuários brasileiros. Durante a pandemia, o app triplicou em número de downloads. A principal fonte de monetização da plataforma é sua versão premium, que custa 22,99 reais por mês. “Vemos uma evolução grande no uso de dados para produtos e serviços esportivos no Brasil. No lado da aceitação, a pandemia fortaleceu atividades físicas conectadas à internet.”

Além da análise de dados, o Strava funciona como rede social com direito a feed onde é possível visualizar as atividades físicas de sua rede de amigos. “Em um dia nublado, você abre seu feed e vê todos os seus amigos que já saíram para correr, nadar, pedalar. É um incentivo que os usuá­rios buscam para manter a constância”, diz Fortes, que espera chegar a 20 milhões de usuários brasileiros até 2025.

A gamificação de atividades físicas não se restringe aos apps de bem-estar, como Strava, Wahoo, Vik e Garmin Connect, disponíveis nas lojas virtuais brasileiras. Equipamentos esportivos mais modernos, inteligentes e conectados são a nova aposta da indústria para atrair públicos diversos, incluindo os millennials e a geração Z.

Lançada em 2021 pelo ex-CEO da Netshoes, a ZiYou é um dos novos players nacionais que apostam na gamificação do esporte. A partir de 149 reais mensais, a marca aluga bikes de spinning inteligentes entregues sem custo na casa dos clientes, que as utilizam por quantos meses desejarem. Os equipamentos da ZiYou possuem conexão bluetooth e acesso ao ZiYou Club, plataforma de conteúdo da marca com mais de 200 aulas diferentes.

“A questão não é somente o equipamento que oferecemos, é sobre o usuário. Ele precisa de conteúdo relevante e acesso facilitado para se conectar mais com sua saúde e seu bem-estar. A tecnologia é a nossa grande viabilizadora”, diz Marcio Kumruian. A ZiYou também comercializa suas bikes a partir de 4.799 reais no Magazine Luiza e na Netshoes,­ mas o business core é o aluguel. “Foi no modelo de assinatura que enxergamos como viabilizar equipamentos de ponta a um custo acessível.”

Os novos planos da Caloi
A tecnologia de ponta também está por trás da reinvenção da centenária Caloi, maior fabricante de bicicletas do Brasil. Em conjunto com a consultoria tech Gotobiz, a Caloi vem investindo em ambientes virtuais visando se conectar com lojistas das mais de 4.000 bike shops espalhadas pelo país. A empreitada está dinamizando a relação entre a companhia e os revendedores e impactando o volume de vendas.

Na fábrica, a Caloi incrementou a montagem das bicicletas, um processo bastante manual. A aplicação da solda no aro das bikes deixou de ser feita a mão e passou a ser automatizada, assim como os cortes de metal, que agora são feitos com laser. “O consumidor quer bikes mais tecnológicas não só pela performance mas também pela durabilidade, facilidade de uso e conforto”, diz o CEO Eduardo Rocha.

De olho nos corredores de rua, a marca suíça On Running, que tem o ex-tenista Roger Federer entre os sócios, acaba de lançar no Brasil seu tênis de alta performance mais tecnológico até aqui. O Cloud­surfer possui um sistema de amortecimento que redistribui o impacto nos pés, poupando energia durante corridas curtas e longas. Uma das grandes inovações é a otimização do amortecimento por computador, através da análise de elementos que considera a tensão na estrutura, simulando o comportamento do tênis durante a corrida, prevendo até 86% do movimento e permitindo minimizar o impacto na musculatura do atleta. “Utilizamos os recursos tecnológicos possíveis para garantir uma performance que atenda a necessidade do atleta”, conta a head de marketing Fabiana de Oliveira. “Os calçados levam de dois a cinco anos para serem desenvolvidos.”

Concorrente da On Running, a Mizuno inaugurou no final do ano passado o Mizuno Engine, novo centro de desenvolvimento e pesquisa que levou três anos para ser construído. O espaço de 6.500 metros quadrados fica em Osaka, no Japão, e servirá para testar novos produtos. O tempo médio de desenvolvimento de um Mizuno é de 18 meses, e os tênis custam de 300 a 2.000 reais.

O superlaboratório conta até mesmo com ginásio de grama sintética e pista de atletismo onde os sapatos e as roupas são colocados à prova. Por 1.999 reais, a marca lançou recentemente seu primeiro calçado da categoria “supertênis”. O Wave Rebellion possui uma placa de carbono infusionada que promete uma corrida mais veloz, com nível elevado de amortecimento. “Esses produtos estão disponíveis para atletas amadores. Nossos clientes podem calçar o mesmo tênis que o profissional está usando na quadra de vôlei”, diz Rogério Barenco, gerente da Mizuno Brasil.

Nos pulsos, a inovação também se faz presente nos smartwatches, acessórios cada vez mais procurados por atletas amadores que querem contar passos, acompanhar frequência cardíaca e comparar a evolução nos treinos dia após dia. A Apple, dona do relógio inteligente mais vendido do mundo, está investindo pesado para coletar dados mais precisos e extrair informações valiosas dos pulsos dos milhões de usuários do Apple Watch. A novidade que balançou o mercado no lançamento do Apple ­Watch Series 8 é um sensor de temperatura corporal superacurado (identifica variações de 0,1 grau Celsius) que ajuda mulheres a acompanhar a ovulação, oferecendo estimativa de quando o período fértil ocorrerá.

Já a Polar, referência em relógios inteligentes, anunciou no mês passado que vai disponibilizar seus algoritmos e soft­wares próprios para marcas parceiras. A primeira colaboração fechada foi com a Casio, que implementará os sistemas fitness da Polar em seus novos modelos. A tecnologia dos wearables abrange dados sobre sono, treino, bem-estar, atividade, desempenho e recuperação.

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