Como a tecnologia e a inovação podem atuar em prol da alimentação saudável

Kalpon Arris By Kalpon Arris
7 Min Read

O Brasil será o 4º país com mais pessoas obesas no mundo, atrás de EUA, China e Índia. Se esses estudos se confirmarem, daqui a oito anos teremos 30% da nossa população adulta obesa.

Hoje em dia, falar sobre obesidade no Brasil pode até parecer um disparate diante da calamidade de insegurança alimentar pela qual estamos passando. Segundo a pesquisa realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN) temos 33 milhões de pessoas passando fome.

Mas, como se não bastasse essa triste realidade, é também a população de baixa renda que está cada vez mais suscetível à obesidade. Menos dinheiro representa não só menos comida no prato em termos de quantidade, mas também em relação à qualidade nutricional.

Estudos apontam que os alimentos ultraprocessados, que são formulações industriais com composição nutricional desbalanceada que favorecem o consumo excessivo de calorias, não foram impactados pela inflação comparados aos alimentos in natura, como verduras, legumes e frutas, que subiram muito de preço ao longo deste ano.

Se o baixo poder aquisitivo é um dos fatores do aumento da obesidade, falta de orientação nutricional adequada e facilidade de acesso a ultraprocessados, aliada à sua praticidade de consumo em relação a alimentos mais saudáveis, são outros que também explicam por que esse problema afeta tanto a população pobre, mas está longe de ser exclusivo dela.

Tanto que países desenvolvidos, como os EUA, se veem sempre às voltas de como lidar com essa questão que não é apenas de cada indivíduo, mas de saúde pública, já que diz respeito à sociedade como um todo.

Isso porque o excesso de peso depende de muitos fatores e tende a desencadear doenças como pressão alta, diabetes, problemas cardíacos, entre outros, o que sobrecarrega o sistema de saúde, seja ele público ou privado, e também pode afetar muito a capacidade produtiva das pessoas.

Ao longo do ano passado, mudanças dramáticas nas preferências alimentares e comportamentos alimentares dos consumidores criaram ondas de agitação em toda a cadeia de valor. Essas mudanças resultaram no maior investimento em inovação que o setor já viu.

O sistema alimentar está mudando fundamentalmente de uma cadeia de suprimentos baseada em commodities focada em escala para um ecossistema alimentar e agrícola personalizado e de valor agregado.

A disrupção está chegando em várias formas, moldadas pelos recentes eventos sanitários, nova dinâmica do consumidor, tecnologia e investimentos de fontes tradicionais e não tradicionais.

Essa realidade está ocorrendo em insumos agrícolas para mercearias, restaurantes, residências e em todos os lugares. Os players do setor estão reagindo simultaneamente a um fluxo implacável de novas demandas dos consumidores enquanto traçam seu futuro em um mundo pós-pandemia.

Assim, com todas essas cartas na mesa e condicionantes envolvidas, diversos players da área de saúde (especialmente seguradoras), do setor de varejo alimentício e do ramo de tecnologia estão se juntando para criar um ecossistema alimentar conectado e centrado no consumidor, projetado para facilitar a alimentação saudável.

Embora chegar a um ecossistema verdadeiramente conectado seja um projeto de longo prazo, cada participante pode começar com algumas etapas básicas.

O resultado seria um verdadeiro um ganha-ganha
Apesar de centrado no consumidor, com benefícios óbvios a ele, todos os envolvidos nesse ecossistema lucrariam. No caso das seguradoras de saúde, com os segurados dedicados a opções mais saudáveis, implicaria em redução dos custos de assistência médica de longo prazo, com doenças como diabetes, pressão alta, colesterol, problemas cardíacos e alguns tipos de câncer.

Para os varejistas de alimentos, há os benefícios da fidelização de clientes e do melhor controle de estoque. Além disso, seria um marketing bem eficiente, já que os consumidores estão cada vez mais atentos a empresas que se propõem a participar ativamente para mudanças positivas à sociedade.

Já as empresas de tecnologia teriam a oportunidade de agregar produtos e vender serviços adicionais, como apps de fitness, de gerenciamento do sono, para controle de ansiedade etc.

Além disso, todos esses players se beneficiariam com novos fluxos de receita que poderiam ser gerados por meio de dados disponibilizados pelos consumidores, que também usariam tais informações para identificar, junto aos profissionais de saúde, seu padrão alimentar e como melhorá-lo.

“Mas não é todo mundo que está disposto a dividir esses dados de saúde e alimentação com qualquer empresa do mercado”, pondera Juliana Crema, sócia da EY-Parthenon para o setor de Consumo e Varejo.

Portanto, a privacidade de dados é um desafio para implantar um empreendimento desse tipo, ou melhor, um dos vários desafios. Ainda há muito o que se planejar e fazer – identificar e avaliar potenciais parceiros, determinar os termos dessa parceria etc.

Mas Juliana revela que, em países desenvolvidos, já é possível notar uma movimentação nesse sentido:

“Já vemos varejistas unidos a empresas de tecnologia nos EUA, Reino Unido e França sugerindo cestas de compras mais saudáveis ao consumidor, por exemplo”.

No Brasil, como sabemos, os obstáculos são bem maiores para isso de fato acontecer.

“De qualquer modo, pensar nesses desafios e se organizar para tentar resolvê-los é o caminho para conseguir um ecossistema bem integrado que tenha como objetivo justamente oferecer a possibilidade de uma alimentação saudável às pessoas, que é a demanda de todo mundo”, afirma Juliana.

Share This Article
Leave a comment